A Casa Branca defende as tarifas como necessárias para proteger a indústria norte-americana e corrigir distorções comerciais. Mas parte do mercado financeiro teme efeitos colaterais, como recessão e inflação, enquanto outros enxergam oportunidades para nações emergentes como o Brasil, que recebeu a menor taxa entre os países afetados.
O anúncio feito pelo presidente Donald Trump estabelece uma tarifa-base de 10% para todos os países, com acréscimos proporcionais às barreiras que cada nação impõe aos produtos norte-americanos, numa estratégia que especialistas classificam como protecionismo calculado.
Breno Falseti, sócio da Rubik Capital, nota que o Brasil ganhou a menor tarifa dentre os países emergentes afetados, o que é “relativamente” favorável.
“Essa posição relativamente favorável pode oferecer ao Brasil uma vantagem competitiva em relação a outros mercados emergentes. Essa percepção já influenciou positivamente os mercados financeiros: o real valorizou-se 0,3% frente ao dólar, e os juros futuros registraram uma queda de 0,5%”, afirmou.
O Brasil saiu no lucro com uma taxação de apenas 10%, segundo um gestor de fundo ouvido pela CNN. Em tom de brincadeira, o economista disse que os técnicos da Casa Branca não entenderam que o ICMS é um imposto sobre valor adicionado.
À CNN, o estrategista-chefe da RB Investimentos Gustavo Cruz comentou que o anúncio foi diferente do que estava sendo prometido. Mesmo assim, para ele, o acordo pode ser benéfico para o Brasil que pode aumentar as exportações para outros países.
“Temos que ver exatamente o que vai ser colocado em prática no dia 5 de abril, se não vai ter alguma surpresa, porque durante a entrevista ele falou que é que a Austrália não deixa entrar a carne deles, então eles não deixariam entrar a carne australiana, isso seria extremamente benéfico para o Brasil, porque o Brasil é o outro grande rebanho do mundo”, frisou.
Ele ainda ressaltou que outros países foram mais taxados que o Brasil, o que dá essa “vantagem”, podendo pleitear esse lugar nas demais balanças comerciais.
“Mas é claro que a gente tem que acompanhar para ver como vai ser o desdobramento, se é isso mesmo, se ele só não está falando números mais altos para outros países, depois vai reduzir. Tudo isso faz bastante diferença na conta final", destacou.
O economista Breno Falseti relembra que a intenção de Trump é, ostensivamente, revitalizar a manufatura nos Estados Unidos e corrigir desequilíbrios comerciais, além de recuperar os empregos fabris americanos.
O sócio da Rubik Capital ainda pontuou que o tarifaço de Trump pode deixar o dólar mais fraco globalmente, como forma de deixar os produtos norte-americanos mais atrativos e reduzir a dificuldade de refinanciamento da dívida dos EUA.
Já o economista sênior do Inter André Valério cita um estudo do FMI, cobrindo 151 países entre 1963 e 2014, com evidências de que aumentos nas tarifas levam, na maioria das vezes, a uma apreciação da taxa real de câmbio, na mesma magnitude do aumento das tarifas.
“Por conta disso, o impacto sobre a balança comercial tende a ser nulo, com as tarifas limitando as importações, tornando-as mais caras, ao mesmo tempo em que a apreciação da taxa real de câmbio torna as importações mais baratas", destacou.
O gestor de investimentos da Warren Frederico Nobre analisa que o grau de incerteza deve impactar a bolsa americana.
“Hoje a gente viu o S&P reverter alguns ganhos no intraday e recuar cerca de 1,7%, e o Nasdaq recuar também um pouco mais, cerca de 2,4%. Quando a gente olha para a composição dos fundos, dos ETFs, dos índices, S&P 500 e o Nasdaq, você pega o Nasdaq, que tem uma composição maior das Magnificent Seven, ou seja, das empresas de tecnologia", frisou.
"Essas empresas são mais expostas a riscos globais, porque tem uma parte maior da receita vinda de fora dos Estados Unidos, e isso acaba trazendo um grau de incerteza maior."
Nobre também destacou que a situação vai acabar “aumentando os custos das empresas” e algum nível de ree, gerando inflação e redução dos lucros corporativos.
Por volta das 20h50, os futuros do Dow caiam 1.065 pontos, ou 2,51%. Os futuros do S&P 500 afundavam 3,63%. Os futuros vinculados ao Nasdaq 100 caíram 4,48%.
Acompanhe Economia nas Redes Sociais