"Nós gostamos muito do produto, acreditamos muito que ele será um produto enorme, muito bom para o brasileiro", afirmou o executivo em entrevista à Reuters em São Paulo na segunda-feira, estimando um mercado da ordem de R$ 250 bilhões. "Mas ainda é um momento de cautela em termos de crescimento."
Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou medida provisória criando o "Crédito do Trabalhador", o programa que dará a trabalhadores do setor privado o a empréstimos com desconto em folha de pagamento garantidos por recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Na ocasião, o Palácio do Planalto citou em nota estimativa do setor financeiro de que 19 milhões de empregados celetistas optem pela consignação dos salários em até quatro anos com o programa, o que pode representar mais de R$ 120 bilhões em empréstimos contratados, contra estoque atual de R$ 40 bilhões.
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego até a véspera mostram que os empréstimos sob essa modalidade já alcançam R$ 14,6 bilhões no país. O Inter já emprestou R$ 606,7 milhões, segundo a pasta, um forte crescimento em relação ao dado divulgado pelo banco, R$ 197 milhões, para os primeiros 10 dias após o lançamento do produto no final de março.
Riccio explicou que ainda há riscos operacionais e de inadimplência que precisam ser mitigados. O executivo acrescentou que os consignados em geral são produtos que têm uma operação já conhecida, mas têm um nível de complexidade.
"Tem toda a questão de averbação, ree, o que fazer em diversas situações, onde, por exemplo, o cliente perde emprego, que no consignado privado vai ser algo muito mais recorrente (que no funcionalismo público). Esse ciclo de aprendizado, ele vai ser importante", acrescentou, avaliando que é "algo para pelo menos um ano" e "progressivo".
Falando do mercado como um todo, Riccio estimou que, uma vez que esse aprendizado for evoluindo e os riscos sendo mitigados, o setor deve ver "reduções materiais" nas taxas de juros cobradas nessa modalidade, o que vai aumentar seu potencial.
O executivo também se mostrou otimista com o efeito potencial do crédito consignado no plano 60/30/30 do Inter, anunciado em janeiro de 2023, em que o banco prevê atingir 60 milhões de clientes, um índice de eficiência de 30% e um retorno sobre patrimônio líquido de 30% até 2027.
"O consignado privado não faz parte do 60-30-30... De repente, nasce um produto que pode ter R$ 250 bilhões de mercado endereçável", disse Riccio, citando que se o Inter tiver uma participação de mercado de 5%, parecida com o que o executivo afirma ser a fatia no crédito com garantia FGTS, já seriam R$ 12,5 bilhões.
Ao final do primeiro trimestre, o Inter tinha 37,7 milhões de clientes, sendo 21,6 milhões de clientes ativos.
O executivo afirmou que o ritmo de abertura de contas tem sido positivo e que o Inter tem observado boas oportunidades para poder crescer o ritmo de aberturas, incluindo o consignado privado. No primeiro trimestre, foram adicionados 1,6 milhão de novos clientes em relação ao final de 2024.
"Se mantivermos esse ritmo, atingiremos a meta", afirmou. "Nós estamos com um produto muito bom, marca forte, bem posicionado, acho que desproporcionalmente bem posicionado em relação ao 'market share' que já temos hoje, o que para mim é um bom indutor de que o caminho de crescimento está mais ou menos pavimentado. Tem que ter boa execução", afirmou.
Riccio também reforçou a perspectiva do ROE do Inter chegar a 30% no final de 2027, a despeito das previsões de analistas, em torno de 18%, entre eles a equipe do UBS BB. No primeiro trimestre, essa linha do balanço ficou em 13,6%, de 9,7% um ano antes. Em 2024, o ROE alcançou 11,7%.
"A credibilidade do plano é crescente... Na medida que formos entregando, trimestre após trimestre, o crescimento de resultados, eles (os analistas no mercado) também vão ajustando as projeções deles para cima."
O executivo também afirmou que o banco tem todo o potencial para poder continuar aumentando a receita em cerca de 30% ao ano. "No nosso contexto, não é tanto assim, porque temos participações de mercado que já são relevantes, mas ainda nos permitem crescer", afirmou.
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